#5: As camas que fazemos
“Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.” Camões
Antes de começar este texto, pensei nele como dois. Dois cenários, dois textos. Mas sendo a perspectiva a mesma na base das duas, cometi o pequeno delito de as fundir. Veremos como corre.
Não, não. Voltemos atrás. Não posso iniciar algo baseado em mudança, em progresso, em atitude, e terminar a primeira ideia com um pensamento tão passivo… passivo! – isto não pára – é algo que me diz muito. É algo, ou melhor, foi algo que nunca se ligou muito ao meu vocabulário, mas que condiz muito com a minha maneira de ser. Condizia, pronto. Porquê? Tanto por pegar, tanto para vos dar como exemplo… para não esmiuçar a minha estupidez em acontecimentos tão factuais como idiotas, vou dar-vos uma analogia ao meu estilo de vida: uma cama mal feita, com um edredão bonito, de seda, a cobrir tudo. Não foi a melhor comparação, admito, mas acho que chegam lá.
É mau para os outros, quando abrem a cama. Ficam desiludidos com tamanha artimanha. É triste para outras, porque sentem-se enganadas. Mas o terrível guarda-se no meu peito, tanto na vergonha em expor as nossas debilidades, como essas mesmas poderiam ser remediadas apenas com um pouco de esforço. Os lençóis não são difíceis de prender, foda-se!
Outro pensamento-suicida que sempre teve a bondade de me colher nesse estágio de candidatura a “preguiça” (animal), foi esperar nos outros a mudança em nós. Nunca resulta, garanto-vos. Não passa apenas de sermos nós a pensar afinal que a cama está bem feita, apenas por alguém que nós estimamos a dormir nela.
Mas terminando de falar do dia de ontem, o que tenho de fazer para o “big bang” conceptual surgir? Quais as vitaminas ideológicas para tomar, e onde está a merda dessa receita?! Creio, hoje – e tenho que acreditar veementemente em tal para o efeito desejado – que é algo que se encontra, sem procurar. Encontra-se fazendo-se. Lutando-se. Agindo. Criando. O óbvio, afinal...
Não obstante isso, olho para cima e reparo que o meu próprio texto começou com uma expressão quase fatalista, e agora vai terminando com entoações de produção, de propagação. É a metamorfose que tem que cair em mim.
Primeiro passo? Deixar de falar. Terminar este texto e ser algo, ser alguém que imagino ser. E, com sorte, ainda faço a cama antes de sair.
“Temos de nos tornar na mudança que queremos ver.” Gandhi
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