"Praxis Malditis"
Nesta última noite, dia 23 de Abril, morreram três alunos da Universidade do Minho, juntamente com quatro feridos. Antes de iniciar esta pequena “nota”, desde já os meus sentidos pêsames à família e conhecidos das três vítimas, que estarão a passar por um momento indescritível e impossível de imaginar.
Infelizmente, não é exactamente sobre a tragédia em si que irei falar. Porque não foi na tragédia em si que a imprensa hoje se recaiu. Longe disso.
O primeiro a entrar em cena foi, como é óbvio, o Correio da Manhã. Não faço parte de nenhum editorial ou de nenhum jornal concorrente, posso dizer os nomes que bem entender. “Praxe mata três pessoas”. Eu só pergunto: qual o objectivo? Será que Óctavio Ribeiro, director da redacção, passou por momentos constrangedores na sua praxe em frente à sua namorada? Será que perdeu dois minutos da sua cadeira de “Jornalismo” por causa da mesma? Pensando bem, até é algo plausível.
Olhemos para trás. Em que ajudou toda a campanha anti-praxe que foi feita após a tragédia na Praia do Meco? Um Dux a declarar amnésia temporal, pais na amargura da ignorância e amigos assustados. Ah, mas esperem! Houve mais de uma dúzia de queixas anónimas de alunos traumatizados com a praxe. Felizmente as coisas ficaram resolvidas então, estava a começar a questionar o bom-senso destas pessoas.
Mas o CM não me surpreende, por mais que custe. Quem mais me desiludiu hoje foi o jornal I, a quem eu reconhecia um estilo noticioso e até estético, completamente à margem do resto da imprensa, caiu na banalidade. “Praxe mata três estudantes”. Com sorte, ainda consideram o muro o Dux de todo este episódio.
Estive no próprio local no dia de ontem, como típico tuga que observa tudo e todos. Ninguém, dos mais próximos amigos à mais longínqua conhecida apenas, ninguém queria saber da praxe. Como é natural. Faleceram três estudantes durante a ocorrência da praxe, neste caso com uma inocente “guerra de cursos”, actividade em que também eu já participei. Não por causa ou através da mesma.
Liguem à TVI, liguem à CMTV, liguem à Visão, ao Diário de Notícias, o circo está prestes a começar, e vai durar umas semaninhas. E a família, os amigos, os conhecidos, residentes, todas as pessoas próximas das vítimas, ficarão – chamem-me adivinho – ficarão a saber todo o conceito e regras e imoralidade das praxes universitárias, de certeza.
Eu só pergunto: e o resto? E o que realmente interessa?
P.S. No meio de tanta palhaçada, de louvar o jornal “Público”. Desde a capa ao seu interior, incólume. Profissional. Objectivo. Ao menos alguém.