"Praxis Malditis"

24-04-2014 12:00

Nesta última noite, dia 23 de Abril, morreram três alunos da Universidade do Minho, juntamente com quatro feridos. Antes de iniciar esta pequena “nota”, desde já os meus sentidos pêsames à família e conhecidos das três vítimas, que estarão a passar por um momento indescritível e impossível de imaginar.

Infelizmente, não é exactamente sobre a tragédia em si que irei falar. Porque não foi na tragédia em si que a imprensa hoje se recaiu. Longe disso.

O primeiro a entrar em cena foi, como é óbvio, o Correio da Manhã. Não faço parte de nenhum editorial ou de nenhum jornal concorrente, posso dizer os nomes que bem entender. “Praxe mata três pessoas”. Eu só pergunto: qual o objectivo? Será que Óctavio Ribeiro, director da redacção, passou por momentos constrangedores na sua praxe em frente à sua namorada? Será que perdeu dois minutos da sua cadeira de “Jornalismo” por causa da mesma? Pensando bem, até é algo plausível.

Olhemos para trás. Em que ajudou toda a campanha anti-praxe que foi feita após a tragédia na Praia do Meco? Um Dux a declarar amnésia temporal, pais na amargura da ignorância e amigos assustados. Ah, mas esperem! Houve mais de uma dúzia de queixas anónimas de alunos traumatizados com a praxe. Felizmente as coisas ficaram resolvidas então, estava a começar a questionar o bom-senso destas pessoas.

Mas o CM não me surpreende, por mais que custe. Quem mais me desiludiu hoje foi o jornal I, a quem eu reconhecia um estilo noticioso e até estético, completamente à margem do resto da imprensa, caiu na banalidade. “Praxe mata três estudantes”. Com sorte, ainda consideram o muro o Dux de todo este episódio.

Estive no próprio local no dia de ontem, como típico tuga que observa tudo e todos. Ninguém, dos mais próximos amigos à mais longínqua conhecida apenas, ninguém queria saber da praxe. Como é natural. Faleceram três estudantes durante a ocorrência da praxe, neste caso com uma inocente “guerra de cursos”, actividade em que também eu já participei. Não por causa ou através da mesma. 

Liguem à TVI, liguem à CMTV, liguem à Visão, ao Diário de Notícias, o circo está prestes a começar, e vai durar umas semaninhas. E a família, os amigos, os conhecidos, residentes, todas as pessoas próximas das vítimas, ficarão – chamem-me adivinho – ficarão a saber todo o conceito e regras e imoralidade das praxes universitárias, de certeza.

Eu só pergunto: e o resto? E o que realmente interessa?

 

P.S. No meio de tanta palhaçada, de louvar o jornal “Público”. Desde a capa ao seu interior, incólume. Profissional. Objectivo. Ao menos alguém.