Quero um tempo, Primeiro-Ministro.
Vão fazer quase três anos que o gestor, economista e político português, Pedro Manuel Mamede Passos Coelho, actual presidente do Partido Social Democrata, assumiu o cargo de primeiro-ministro de Portugal. Esta apresentação fofinha deve-se ao facto de eu ter acreditado neste indivíduo quando então assumiu a cadeira grande do Governo. Para além de um certo sex-appeal - salvas a devidas circunstâncias! - no olhar e do seu perfil de antigo galã nos anos 70 que com o tempo se acomodou a algo, e tendo eu na altura do seu empossamento uma idade quase prévia à puberdade, senti um acreditar genuíno em Passos Coelho, pois pensava observar o mesmo através dele. Uma certa serenidade que me deixava a mim, (muito) jovem português, seguro. Mesmo não sabendo na altura a indumentária geral da política portuguesa e da sua história (acho que nunca irei saber, sinceramente). Enfim, por vezes temos crenças destas. Mas a desilusão da verdade foi maior ainda que a do Pai Natal, creio eu.
Folheava eu na semana passada o meu jornal de estimação, e deparo-me com o tal “Manifesto dos 70”. Cativou-me a intenção, o objectivo daquelas 70 mais que plausíveis personalidades conhecedoras do assunto a apelar à reestruturação da dívida, o mais que óbvio movimento que os portugueses (não confundir com “o país) necessitam actualmente. Quanto ao Manifesto em si admito que não é perfeito, claro que não. Como referiu Marcelo Rebelo de Sousa na passada semana, estão lá todos os dados mas fica a faltar o fio condutor pós-reestruturação. O essencial.
Mas o que mostra, ou melhor, o que demonstra este Manifesto? Duas coisas, pelo menos:
Em primeiro lugar, a extremamente notória falta de força de qualquer influência do PS e de Seguro, para haver uma demonstração de uma intenção que é, repito, óbvia para todos nós, do qual o Partido Socialista vê passar à frente. É como se nem contassem.
E, em segundo, a difícil de classificar reacção de Pedro Passos Coelho e algum tratamento tão pouco subtilmente encomendado de certas partes da nossa comunicação social. O primeiro-ministro, cujo olhar já não me traz interesse... mas pena, reagiu dizendo que revela uma “concepção infantil, que nem sequer é política, da Europa”. Infantil porquê? “Estão a falar de uma Europa que não existe, nem existirá e ainda bem, porque ninguém aceitaria uma Europa em que uns poupam para que outros possam gastar.” Ora bem, estas declarações para mim foi o “acabar” da minha relação intelectual com este senhor. Quase que preferia que a minha namorada me chamasse pelo nome de outro. Quase.
E tenho ainda que registar, como aspirante a jornalista, a minha intriga perante tanta “agitação” e nervos em certos sectores da comunicação social com o Manifesto, como se de um apelo ao genocídio se tratasse. Gostava de perguntar a esses senhores, tão bem protegidos, onde estarão em 2025, 2030? Infelizmente, tenho a certeza que melhor do que eu.
Mas por onde começar? Podemos ir pela via da gritante incoerência do Governo, porque a renegociação da dívida não é novidade para ninguém, havendo até o próprio actual secretário de Estado adjunto de Passos Coelho a já pedir a renegociação, quando estava na oposição. Passemos à frente.
Depois existe a linha de pensamento deste nosso primeiro-ministro, que quem me dera que o deixassem voltar aos seus áureos anos 80, nas festas depois dos congressos da JSD): o grande problema não está situado da dicotomia entre credores e devedores, entre maiores ou menores economias, nada disso. Ele remete-nos para outro tipo de divisões: de preconceito. Uns são poupados, outros gastadores. Eles são vítimas mais que saturadas, nós inconscientes abusadores do que temos e do que não temos.
E portanto perdi a inocência política. Acabou! Constança Cunha e Sá disse esta semana que estamos a ser governados “por um bando de loucos” (entrevista no facebook da página), eu creio que estamos a ser governados por um bando de loucos, racistas, e preconceituosos. E considerem isto um eufemismo, infelizmente.
O que pensei ser paciência até agora, é o desnorteio. A serenidade que me tranquilizava, é apenas uma insensibilidade social, quase sádica. O patriotismo comedido que parecia fugir ao populismo, é mesmo a personalidade de um “tuga”, que gostaria de não o ser. E depois do que se viu nas Autárquicas Francesas, de Marine Le Pen, da nossa falta de oposição , e de um “nice guy” para todos menos para os portugueses a presidir isto tudo… tira-me a fome.
Uma coisa é certa Passos Coelho. Se não te sentes bem a defender o que é “teu”, por favor, sai. Os portugueses também não se sentem bem contigo. Como podemos nós negociar com outros Estados e entidades externas, se a personalidade (?) que o conduz e dirige é o primeiro a exprimir o preconceito e a insensibilidade total (ou burrice) que são usados contra o seu próprio povo?
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